quarta-feira, 8 de julho de 2015

O retorno!

Salve galera,

por diversos motivos não pude continuar escrevendo. Tenho diversos textos prontos para postar e continuar a alimentar o blog. Espero conseguir dessa vez manter postagens periódicas que debatam todos os temas dignos da mesa de bar, ou seja, todos os temas. Além de textos alheios, poesias, músicas, charges, e tantas outras coisas mais!

E não me venha com essa de que tem temas que não se debate. Todos os temas devem ser debatidos. Como disse muito bem uma postagem do Twitter esses dias: "Por não debatermos futebol, política e religião. Aconteceu: 7 x 1, Cunha e Feliciano."

Então vamos ao debate!

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

[Willian à Thiago] O Chá

         Às sendas da metáfora me convida um prezado colega, ao que com prazer respondo, pois quão propicio não o é este primeiro caminho a qual me chama, porquanto exatamente em tais termos vislumbrei-nos quando de sua salutar proposta para que devaneássemos em debates sobre os temas mais diversos. Fazendo-me claro, ocorre que me ensejara tal proposta, urge que se diga, o evocar de certa passagem presente numa belíssima produção cinematográfica chinesa, que com toda a poesia do gênero literário chamado Wuxia, retrata o tema que ouso perscrutar em meus estudos históricos: O imperialismo na Ásia do século XIX. Na cena em questão, da tocante obra de nome Fearless, respectivamente, defendendo sua cultura então sob dominação, e representando as nações invasoras do desventurado Império Celeste, um Chinês e um Japonês, prestes a se enfrentarem em competição marcial, permitem-se, antes de tudo, um cordial e contemplativo diálogo. Durante a conversa, o nipônico debocha de seu simplório interlocutor em relação a sua incapacidade de diferenciar o chá que bebiam; algo a que este replica, não sem influência de pensamentos budistas, dizendo: “O chá não diferencia o chá! Os homens o fazem.” Nesta lógica, as reflexões continuam e culminam na consideração de que não haveria, portanto, também diferenciação entre os estilos de artes marciais. Indagado, então, pelo japonês, sobre o porquê das constantes e habituais lutas daquele contexto, a resposta do mestre chinês é mais uma vez eloquente em sua simplicidade: As lutas ocorreriam “para descobrirmos a nós mesmos”

Posto isto, meu caro Thiago, eis a nós, diria eu, um século depois, na linha de cá do limiar da ficção, mas na mesma mesa, que agora opõe, por sua vez, um materialista dialético e um errante de inclinações romântico-pós-modernas, bebendo, contudo, do mesmo chá (com o devido perdão da profanação que tal bebida de tão pouco grau etílico possa representar ao adjetivo que qualifica o título deste domínio virtual). É por tal imagem, a qual tão logo me veio em mente, que digo ter pensado em termos metafóricos diante de seu convite. Agora, retribuindo-o, o convido a refletir sobre as ideias por detrás dela, porquanto, não pude imaginar algo mais adequado que sua analogia para iniciar nosso pequeno colóquio; afinal, haveria posicionamento teórico superior?

Gosto de pensar (com certo pendor relativista, admito) que não, e que nesse sentido, os embates intelectuais nos quais se fundam o conhecimento – e por extensão o próprio saber – não são senão formas de descobrirmos a nós mesmos.  E a razão disso é deveras flagrante na própria natureza do chá a compartilharmos, que, como nos lembrara o sábio chinês, não julga a si próprio. Ora, estendendo a questão, haveriam as coisas em si de se diferenciarem? Esta é uma pergunta que frequentemente me assalta. Com muito pouco conhecimento de causa, costumo conceber que o mundo não deva passar do mesmo elemento simplesmente existindo como um todo, de átomos vibrando em subdivisões infinitas e – o que percebemos como – padrões de ligações que no final faz com que tudo seja uno em sua diversidade; uma totalidade que somente quando experimentada por nós e decodificado pela linguagem associativa de nossos sentidos assume algum significado. E por significado, recapitulando lições de linguística, sabemos que falamos inevitavelmente de associações, as quais se fundam em similaridades e diferenças. Parece-me, portanto, arriscando-me a dizer grandes besteiras, que o entendimento deste mundo, em suma apenas uma grande vibração interligada, está baseado na identificação de grandes fatores coesivos e diferenciativos dentro das sensações que experimentamos, fatores estes que vão separar em partes uma totalidade que em si e por si não se diferencia.

Assim sendo, consciente ou inconscientemente, o simples e natural ato de viver, experimentar e significar o númeno não seria criar “formas”, enquanto unidades coesivas quais propostas por Norberto Guarinello para os grandes contextos temporais? Dada ainda a natureza associativa deste processo, não trabalharia qualquer significação com uma linguagem metafórica? Destarte, por mais pretensiosa que seja a ciência em seus tecnicismos e rigores, como poderia ela estar alheia a isso? Tendo já me estendido em divagações por demais abstratas, concluo: Será mesmo que precisamos esperar nos tornarmos clássicos para fazermos uso do artifício metafórico, ou, sem percebermos, a metáfora não seria conditio sine qua non do próprio conhecimento?

Considerando a hipótese, mostre-me as suas, meu caro, suas metáforas e significações deste mundo; prossigamos e as comparemos com as minhas neste profícuo e prazeroso embate antropológico fundado – qual nas lides marciais de outrora – no reconhecer do outro para conhecermos melhor a nós mesmos.    


Segue o link da cena "Chá", do filme Fearless [O mestre das armas]

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Passeio Socrático

por Frei Betto

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz nos seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos dependurados em telefones celulares; mostravam-se preocupados, ansiosos e, na lanchonete, comiam mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, muitos demonstravam um apetite voraz. Aquilo me fez refletir: Qual dos dois modelos produz felicidade? O dos monges ou o dos executivos?

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não; minha aula é à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir um pouco mais”. “Não”, ela retrucou, “tenho tanta coisa de manhã...” “Que tanta coisa?”, indaguei. “Aulas de inglês, balé, pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!’”

A sociedade na qual vivemos constrói super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas muitos são emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram que, agora, mais importante que o QI (Quociente Intelectual), é a IE (Inteligência Emocional). Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma próspera cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi¬nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilidade coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis,¬ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba¬ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su-gestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globocolonizador, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer de uma cadeia transnacional de sanduíches saturados de gordura…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, que morreu no ano 399 antes de Cristo, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Quem matou Toninho? - Vida e resistência

via quemmatoutoninho.org.br

Quem foi Toninho?

Toninho teve uma trajetória política marcada pela defesa dos direitos e interesses da população. Quando foi vice-prefeito de Campinas entre 1989-1992 fez denúncias de corrupção na administração municipal. Ao longo da década de 90 teve sua atuação pautada por disputas contra a especulação imobiliária e em defesa do patrimônio histórico. Quando a CPI do narcotráfico, em 1999, se instalou em Campinas ofereceu denúncia contra empresários da cidade. Eleito prefeito, Toninho contrariou diversos interesses de setores empresariais do município. Por todas essas razões, 70% do povo campineiro (dados fornecidos pelo Ibope), não acredita que o crime ocorreu por acaso e exige que as investigações sejam retomadas. Somente a nossa mobilização poderá acabar com a impunidade e com a injustiça.

Trajetória de defesa ao povo
1978 - Em meados da década de 70, Toninho uniu-se aos favelados campineiros no movimento Assembléia do Povo, tornando-se o arquiteto oficial e o maior aliado no projeto de urbanização das favelas. Ele ficou 15 anos no movimento lutando para trazer melhores condições de moradia ao povo.
1981 - Filia-se ao PT  único partido da vida de Toninho.
1985 - Começou uma luta em defesa ao Patrimônio Histórico de Campinas, momento em que criou a Fundação Febre Amarela - responsável pela preservação de vários prédios históricos da cidade, inclusive a sua própria casa (pouso bandeirista do século XVIII; contendo a Casa Grande e Tulha, restaurados por Toninho, e tombados pelo Condephaat e Condepacc, a seu pedido).
1989 - Foi eleito vice-prefeito de Campinas pela chapa do PT. Nessa época foi também nomeado Secretário de Obras da PMC, período em que denunciou corrupção envolvendo o Prefeito Jacó Bittar, o Governador Quércia e o Presidente Fernando Collor. Em virtude dessas denúncias foi exonerado do cargo de Secretário e banido da Prefeitura.
1992 - Após tal fato, Toninho decide aprofundar seus estudos sobre Campinas durante doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela USP. Aí então, iniciou a incansável batalha contra os interesses nefastos da especulação imobiliária aliada às empreiteiras, movendo várias ações judiciais, fazendo denúncias junto aos órgãos fiscais da lei e organizando protestos em defesa da coisa pública.
1996 - Toninho concorre às eleições municipais para o cargo de Prefeito, sem qualquer recurso ou apoio da direção nacional do PT, termina em terceiro lugar.

2000 - Foi eleito Prefeito de Campinas, tornando-se o primeiro Prefeito do século 21.

Toninho na Prefeitura


2001 - Com a caneta na mão, como dizia Toninho, deu início a profundas mudanças estruturais na administração pública municipal. Reduziu uma média de 30% o valor dos contratos públicos nas áreas de merenda escolar, segurança, coleta de lixo, etc., o que gerou uma economia de muitos milhões de reais aos cofres municipais.
Criou a Lei da APA (Área de Preservação Ambiental de Sousas e Joaquim Egídio), projeto que estava engavetado há 12 anos!
E iniciou o projeto de criação da Cidade Viracopos, que consistia na ideia de construir um grande bairro, com toda a infraestrutura necessária, para abrigar as famílias que seriam desalojadas pela inevitável expansão do Aeroporto Internacional. Com essas e muitas outras ações em curso, Toninho estava contrariando os interesses dos históricos saqueadores do cofre público, e foi assassinado em 10 de setembro de 2001. Governou Campinas por apenas oito meses e dez dias, quando um tiro certeiro lhe acertou na altura no peito, praticamente a queima roupa.
2001 - Toninho é assassinado. Mais de 100 mil pessoas acompanham o velório do politico que não tinha o rabo preso com ninguém!


11 anos de resistência

2001/2002 - As investigações do seu assassinato foram conduzidas pela Polícia Civil de Campinas, que fez uma tremenda lambança no caso, desrespeitando o local do crime, executando os principais suspeitos  no episódio da chacina de Caraguatatuba - dentre tantas outras contradições existentes na fictícia investigação realizada. Tanto é que, em primeira e segunda instância do judiciário paulista  sendo na segunda por unanimidade dos desembargadores  a denúncia efetuada pelo Ministério Público de São Paulo foi rechaçada sob o argumento de que as investigações foram falhas e não havia indícios suficientes para a conclusão destas.
​2002 - A Polícia Civil encerra as investigações de forma prematura, sem investigar a hipótese de crime político.
2003 - Lançamento do abaixo-assinado em praça pública, escolas e por meio do site www.quemmatoutoninho.org, conseguindo 53.000 assinaturas da população de Campinas. Na ocasião, foi pedida a reabertura das investigações e a intervenção da Polícia Federal no caso. No mesmo ano, pesquisa realizada pelo IBOPE, apontou que 70% dos campineiros acreditam em crime político.
​2004 - Caravana à Brasília, composta por quarenta apoiadores do movimento Quem Matou Toninho?. Roseana Garcia, viúva do Prefeito, foi recebida pelo presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, pela CNBB  Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, pelo Presidente da Câmara dos Deputados e vários parlamentares.
2004 - Personalidades manifestam apoio ao pedido de intervenção da polícia federal no caso. Assinam o manifesto: Aziz Ab Saber, Cândido Malta, Chico César, Chico de Oliveira, D. Cláudio Humes, Eduardo Suplicy, Heloísa Helena, Emir Sader, Gilmar Mauro, Hilda Hilst, Jorge Coli, José Arbex, Marilena Chauí, Oscar Niemayer, entre outros (faça download ao lado).
2004 - A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados deliberou pelo pedido ao Ministério da Justiça de intervenção federal no caso, com base no fato de que Toninho colaborou com investigação federal quando da passagem da CPI do Narcotráfico em Campinas.
2004 - Roseana é recebida pelo Ministro da Justiça, momento em que entregou o abaixo-assinado, e posteriormente foi recebida pelo Presidente Lula.
2005 - A Comissão composta por membros do Conselho Federal da OAB, criada por ato do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, conclui pela imediata entrada da 14
Polícia Federal no caso.
2006 - Depoimento na CPI Bingos. Momento importante para despertar a atenção e debate nacional sobre o caso. O relatório da CPI faz recomendações sobre o caso.

2007 - O juiz titular da Vara do júri de Campinas, Dr. José Henrique Rodrigues Torres, determina a retomada das investigações, uma vez que as mesmas foram frágeis e insuficientes. A promotoria, contrariando a opinião da família e da sociedade, recorre da sentença judicial junto ao TJ-SP.
2008 - O ministro da Justiça, Dr. Tarso Genro, determinou a abertura de inquérito policial pela Polícia Federal, que foi remetido ao Procurador Geral da República  Ministério Público Federal, para emissão de parecer.
2009 - A Terceira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo confirma por unanimidade a decisão da Justiça de Campinas, determinado o imediato retorno das investigações.
2010 - Em cumprimento a decisão do Juiz José Henrique Torres, em dezembro de 2010 o caso é reaberto com a instauração de novo inquérito policial, sob o comando da Polícia Civil campineira, na divisão de homicídios.
2011 - O inquérito policial encontra-se paralisado desde então, com substituição de delegado e sem estrutura para investigação.
2011 - A família reitera o pedido de federalização do caso em petição ao Procurador Geral da República, pedindo que o caso tenha o deslocamento de competência para a Justiça Federal e Polícia Federal, por se tratar de grave violação aos direitos humanos e ferir tratados internacionais.



O RAP e a Poesia

por Sergio Vaz - Cooperifa

O RAP e literatura da periferia há tempos vem falando de todos esses problemas que hoje viraram pauta nas manifestações deste país.
Quando o sofredor fala ninguém da ouvidos.
Lembra?
“É som de preto, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado.” (Amilcka e Chocolate)
“Pois é, assim que é” diria o RZO dentro do TREM.
O Racionais MC´s falou que daria um filme, mas deram vários. Inclusive Cidade de Deus, o melhor de todos. PERIFATIVIDADE total.
Em tempos de preconceito explícito, não é fácil ser homem de aço no Brasil (DMN) para os MANOS E AS MINAS (Xis). Se não ficar esperto é POW e PAH, PEI.
É sobre isso que a gente canta e escreve: sobre o homem na estrada em busca de UM BOM LUGAR (Sabotage).
E aí, colocaram FOGO NO PAVIO (GOG) ou FOGO NA BOMBA( De menos crime)? A REALIDADE É CRUEL no CAPÃO PECADO (Ferréz), ou para qualquer SUBURBANO CONVICTO (Buzo).

COLECIONADOR DE PEDRAS (Sergio Vaz) ou não, os saraus de poesia que se espalharam pela periferia, mostraram que não estamos aqui DE PASSAGEM, MAS NÃO A PASSEIO (Dinha).

É o fino da Poesia, é o FINO DU RAP, é nóis TRAFICANDO INFORMAÇÃO (MV Bill). No RAP é CADA GÊNIO DO BECO rimando na SLIM RIMOGRAFIA que a CONEXÃO DO MORRO não para.

Através da VERSÃO POPULAR fomos criando nossa CONSCIÊNCIA HUMANA que o movimento é pra todos, pro G pro H pro I e PROJOTA. Essa é minha VISÃO DE RUA AO CUBO.
ATITUDE FEMININA não falta, FLORA MATOS.

Não tem coisa melhor do mundo que recitar poesia ouvindo a TRILHA SONORA DO GUETO, porque a periferia é e sempre foi a FACÇÃO CENTRAL do bagulho.

EM PUNGA (Akins e Elizandra Mjiba) deram o recado, a RAPADURA é doce, mas não é mole.
Essa poesia sempre percorreu a VIELA 17 e as favelas ao lado do oprimido, ao lado do povo, na luta contra o racismo, o RAP é a música que está perguntando: “Como vai seu mundo?” (Dexter).

Não temos o CORPO FECHADO (Thaíde e Dj HUM), mas também não temos medo, somos o ELO EM BRASA, tanto faz no interior ou na ADEMAR, porque luta sem estratégia é rifa, a gente sabe disso no BINHO ou na COOPERIFA, somos POTENCIAL 3, na primeira potência. É poesia, é CRÔNICA é romance, literatura na veia.

DETENTOS DO RAP, não na vida, esse é o lema dessa literatura.
Somos brancos, índios, mameluco, essa nação é ZÁFRICA BRASIL, porra!
E o CRIOLO está cansado de ser estatística de chacina, EMICIDA, não homicídio, entendeu? SOMOS NÓS A JUSTIÇA. KSL ou NSN?

“DEUS, OLHAI OS FILHOS DA PERIFERIA (N Dee Naldinho), mas é bom a gente ficar de olho também.

Poesia é INQUÉRITO, morô? O Bagulho não é mínimo, é MAX B.O. Porque “Evoluir crescer” (Tati botelho) é fundamental. Se gostar e passar kAMAU, chama o DOCTOR MC´S porque vai ficar NEGREDO quando DBS e a quadrilha dominar o ritmo e a poesia.

Nessa TERRA PRETA onde DOM PIXOTE viu moinhos e dragões, o RAP É COMPROMISSO NÃO É VIAGEM e RESPEITO É PRA QUEM TEM (Sabotage).
Não adianta julgar, O JUÍZ MAIS JUSTO É O TEMPO (Detentos do RAP).

Quem matou Toninho?

Toninho! Presente!

Há 12 anos o então prefeito de Campinas, Toninho, era assassinado. Depois de tantas investigações e promessas para descobrir quem de fato o havia assassinado, o povo espera sua resposta. Afinal, quem matou Toninho?


São 12 anos de omissão, silêncio, impunidade. São 12 anos de sonhos e esperanças esmagados. São 12 anos vendo um projeto de uma Campinas do povo destroçado e deixado as migalhas. São 12 anos de desesperanças.

Porém, o projeto de outra cidade deve reviver. Ou melhor, vive em cada lutador/a que com seu suor e sangue batalham por uma cidade humana, acessível, do povo. Por uma Campinas de quem mora no Campo Grande, no Ouro Verde, no Campo Belo, no DIC, no Anchieta, no Bandeiras. Por uma cidade de todas/os que graças a batalha pela regularização dos bairros populares pela equipe liderada pelo Toninho hoje tem sua moradia.

Toninho! Presente!

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

[Thiago à Willian] Formas - premissas de um longo de debate

por Thiago D. Castro

Observaçõs iniciais - esse post é o primeiro de uma série que trará a tona um debate que aconteceu, acontece e, assim espero, acontecerá, entre esse que vos escreve e um estimado companheiro de turma, Willian. Durante toda a nossa formação na "erégia" (sqn) Pontífica Universidade Católica de Campinas no curso de História tivemos um embate amigável, mas extremamente polêmico e construtivo.

Uma citação muito interessante li uma vez no prefácio do livro "Karl Marx contra o barão de Murchaissen", de Michael Löwy. Dizia o comentador: "só quem possui tamanha sensibilidade pode se permitir a colocar um debate tão sério sob o olhar de uma metáfora ou um conto infantil." Tal debate é entre duas linhas teóricas, o positivismo e o marxismo (ou o materialismo histórico).
Os chamados "clássicos" são muito interessantes. Trazem a nós conhecimentos sobre uma época já inexistente. Interessante que muitos deles formados nas primeiras universidades que surgirão durante a Idade Média, escreveram por incrível que pareça (e muitas vezes esquecemos disso) sem citação ou estrutura.

Pegamo-nos presos a estruturas: introdução, desenvolvimento e conclusão. Com direitos a notas de rodapés, citações, paráfrases, bibliografias. Fontes primárias, secundárias; elas que sejam devidamente certificadas pelos antros do conhecimento. Isso tudo regido pelas quases divinas normas da ABNT.
O mais curioso é que quando fui aprender sobre o objeto que a história estuda. O professor teve que fazer uso de uma metáfora. "Um gato preto, num quarto preto com a luz apagada." Isso numa disciplina que deveria presar pela rigorosidade, a Teoria da História.
Recomendo aqui a leitura de um texto do Guarinello (professor da USP), "Uma morfologia da História: as formas da História Antiga", em que o autor debate sobre a subjetividade, num espaço racional e objetivo, das imposições das formas tão comuns, mas tão pouco indagadas, que estão presente no estudo da história. Como as que vemos na escola: Pré-história, Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea.

Gostaria de começar esse debate por algo que temos muito em comum. A forma de produzir conhecimento. Ambos temos essa impressão que aos poucos foi se transformando numa certeza. Temos que virar superacadêmicos, ou com a sensibilidade de Löwy, para podermos escrever fora desses padrões. Quando me tornar um "clássico", poderei utilizar o 'conhecimento' sem rigorosidadde para produzir conhecimento "verdadeiro" (até que a próxima teoria ganhe o posto de verdadeira).

Espero que essas postagens ajudem na reflexão sobre a produção de conhecimento, história, teorias e outros devaneios que surgiu(ram).

A ampulheta é sua Willian.

Provocações

por Luis Fernando Veríssimo

"A primeira provocação ele agüentou calado. Na verdade, gritou e esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão.

A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso.

Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de atendimento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz.

Foram lhe provocando por toda a vida.

Não pode ir a escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, gostava da roça. Mas aí lhe tiraram a roça.

Na cidade, para aonde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era lado. Resistiu a todas. Morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme.

Queria um emprego, só conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma submulher. Tiveram subfilhos. Subnutridos. Para conseguir ajuda, só entrando em fila. E a ajuda não ajudava.

Estavam lhe provocando.

Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar pra roça.

Ouvira falar de uma tal reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a idéia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa.

Terra era o que não faltava.

Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo. Concluiu que era provocação. Mais uma.

Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Para valer. Garantida. Se animou. Se mobilizou. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação.

Aí ouviu que a reforma agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano... Então protestou.

Na décima milésima provocação, reagiu. E ouviu espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele:

- Violência, não!"


Gostaria de agradecer a Mari (psicologia da PUC) por ter apresentado esse poema num desses encontros que a vida proporciona.

O poema serve muito bem como chave de leitura das atuais manifestações, as chamadas "Jornadas de Junho". Estou preparando um texto sobre o assunto, por isso não entrarei em detalhes sobre isso.

Mas gostaria de convidar a tod@s a relerem o poema sobre a ótica dos transportes, saúde, educação, acesso à cultura, moradia, lazer, e tantas outras políticas públicas utilizadas como trampolim eleitoral que no fim não são trabalhadas, discutidas e garantidas a população.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Educação - a algo pra se discutir?

Sou professor da rede pública de ensino de São Paulo (nenhuma grandiosidade por conta disso). Sempre escuto pelos corredores das escolas, ou nas reuniões pedagógicas (os chamados ATPC - verdade, não sei o significado dessa sigla. Olha como presto atenção nessas reuniões), ou na boa mesa de bar, milhares de reclamações sobre o atual sistema educacional.
                Que ele está falido. Ou que é muito conteudista. Que a figura do professor não tem mais autoridade. E tem aquela constatação que o estado não valoriza nem os profissionais, nem os/as estudantes. E a velha ladainha de que a Escola não é atrativa.
                Entre reclamações, choros, angústias e lamentações algo é comum: o sistema de ensino e/ou a escola já não mais se encaixam na sociedade em que vivemos.
               
                Gostaria de dar alguns pitacos:

I - Sim, a escola tal como está é falida! Não serve!

II - É necessária melhor compreensão do que de fato representa o ensino hoje. E quem são as pessoas, isso mesmo PESSOAS, não clientelas, nem marginais, piranhas, delinquentes, futuro bandido, é necessário saber quem são os seres humanos envolvidos em todo esse processo. Como posso me relacionar com alguém que não conheço?

III - Faz-se urgir propostas mudanças de relações entre as pessoas que sejam cotidianas. Não apenas papel e projetos. Mas, vivências pedago-socioculturais!

IV - Por fim, os espaços de saberes são mais amplos que quatro paredes de uma sala de aula. A sabedoria popular tem que vir a tona com seus próprios caminhos e didáticas.


Esse é o post introdutório de diversos debates que gostaria de lançar para a discussão de educação. Para os/as que ficaram indignados/as com as questões levantadas e não respondidas ou, decentemente, argumentadas, não se preocupe. Nos próximos post's tentarei devanear sobre tais assuntos.

Devemos mais do que nunca debater tal assunto. Diariamente milhares de crianças e adolescentes, homens e mulheres, passam por tal ambiente que influenciam diretamente suas existências. Coloquemos nossas opiniões a mostra, ousemos mostrar nossas sabores e dissabores, mas nunca deixemos de sonhar com outra forma de vivenciar nossas aprendizagens.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Das pedras-poemas e dos poemas-pedras

Vivemos tempos de pedra!
que são arremessadas,
lançadas, partidas.

Vivemos tempos de poemas!
Escritos com o suor,
sangue, luta e silêncio
não o silêncio que os vencedores
submetem os vencidos.
Mas o silêncio de todos que
tombaram antes de nós,
e que por mim, por você,
por nós, eles falam.

Só não pense que são apenas
pedras, ou apenas poemas.
Na moral, são sonhos,
utopias, esperanças!

Em cada pedra, um desejo.
Em cada poema, uma vida
uma nova vida
um homem, um novo homem
uma mulher, uma nova mulher

Somos cada poema lançado,
somos cada pedra escrita.
Poemas negros, ecossocialistas
Pedras feministas e libertárias.

Pois cada pedra que destrói,
no fundo, alicerça um
novo poema, um novo mundo.

Hoje, mais do que nunca,
eu + tu, pode enfim, ser
nós.
E que cada pedra e poema
sejam nossas armas,
nossa bandeira,
nossas revoluções!

Num mundo onde as mulheres,
negras/os, gays, lésbicas,
a perifa, e amar...
não sejam a minoria.
E, sim, versos da mesma
pedra.

Que a realidade dos nossos
poemas, se radicalizem
em nossas pedras.
Em nossas mãos carreguem poemas
E que nossas vozes proclamem pedras!

Juntemos nossos poemas/pedras
aos de tantos Josés, Marias,
Amarildos, Ângelas, Zumbis
Eles que assim como nós
ainda ousam...

lançar pedras/poemas,
escrever poemas/pedras!

(Thiago D. Castro)